O Rádio literalmente
cruzou de norte a sul do Brasil, foi a grande febre dos anos 60 em Manaus, foi
o espaço onde os artistas iniciavam sua carreira, era o local da grande triagem
para o estrelato e para o aprendizado musical. Mas vejamos um pouco da história
do Rádio e como a influência da Rádio Nacional sucedeu no cenário cultural em
Manaus.
O rádio
chegou de fato no Brasil no ano de 1922 quando o povo ouviu o discurso do
presidente Epitácio Pessoa e as transmissões vindas do Teatro Municipal e do
Teatro Lírico.
A
primeira emissora brasileira foi a Rádio Sociedade em 1923, a segunda a Rádio
Clube do Brasil, (1924), e a terceira a Rádio Educadora em 1927. Aos poucos o
rádio começou a simbolizar poder e benefícios políticos, como na década de
1940, o governo Vargas incorporou a Rádio Nacional ao patrimônio da União. Isto
em consequência do fracasso do programa Hora
do Brasil em Buenos Aires que utilizava como meio de propaganda da música
brasileira. E somente em 31 de maio de 1958, a Rádio Nacional foi inaugurada.
A Rádio
Nacional foi a expoente da divulgação da cultura brasileira. Foi por meio dela
que o mundo conheceu a música brasileira.
Em Manaus a chegada do
rádio foi um pouco tardia. O rádio se consolidou em Manaus pelo fato da TV
ainda não ter se fixado na cidade.
As emissoras de Rádio
somente foram criadas na cidade a partir da Lei n.445 de 17 de outubro de 1949.
Logo, a década de 50 foi o período de amadurecimento e na década de 60 a consolidação como
principal instrumento técnico para o desenvolvimento da vida cultural em
Manaus.
Mas, de acordo com uma
nota no Jornal do Commercio, em 16 de setembro de 1965, a Rádio Baré já
atuava desde 1940, conforme a notícia a seguir: “O 1º Festival Estadual de
Dublagem iniciará as festividades, igualmente dos 25 anos de atividades da Rádio Baré e será transmitido diretamente
do clube líder das promoções”.
A Rádio Nacional era muito
ouvida assim como as Rádios estrangeiras, as principais ouvidas em Manaus eram:
“BBC de Londres, Voz da América, Rádio da Havana, Rádio Central de Moscou,
Rádio Pequim”.
As emissoras locais organizavam
concursos, festivais e muitas atividades culturais, não somente dentro do
estúdio eram realizados os programas, mas as programações eram feitas também em
locais mais frequentados da cidade como a Maloca dos Barés, onde a Rádio Baré
apresentava um programa com convidados como Ângela Maria e outros cantores do
rádio, uma forma de prestigiar e dar audiência do público.
Um dos eventos mais importantes
foi a festa Os Melhores do Rádio, nos
anos de 1967 e 1969, onde se escolhia o melhor locutor, animador, comentarista,
narrador, rádio repórter, rádio atriz, discotecário, cronista e novela, além de
melhor cantor e conjunto rítmico da cidade de Manaus.
A programação das
emissoras era variada. Logo no início da década, em 1961, o programa que mais
se destacou foi o Programa Chegou a Hora
do Rock, da Rádio Baré, apresentado pelo radialista Joaquim Marinho,
programa que tocava Elvis Presley e Bill Haley que motivou também muitos jovens
a formar grupos e bandas, a comprar o instrumento na Zona Franca e ensaiar na
casa de amigos.
Outro programa musical que
se destacou foi o Programa em Bossa Nova,
da Rádio Baré, que era um “programa variado com sequencias musicais para os
calouros” (Jornal do Commercio, 26.03.1964).
O Programa Night and Day, da Rádio Rio mar, foi um dos mais ouvidos
tanto pela programação, mas principalmente por ter como radialista e cronista o
chamado Luis da Conceição Souza Pinto,
apelidado por Little Box, o “Caixinha”.
É neste cenário que muitos
músicos desta época como Adelson Santos, Noval
Benaion, Katia Maria, Lili Andrade, Torrinho hoje conhecido como Zeca Torres,
Domingos Lima (16.01.1926 /29.09.1995), Aureo Nonato (01.04. 1921 23.03.2004) , entre muitos outros que escutavam as
Rádios, aprendiam a cantar as músicas e aprendiam a tocar um instrumento e se
tornaram símbolos de uma geração artística da música e precursores de um novo
fazer artístico na cidade. Os seus professores foram os cantores da Rádio
Nacional como Cauby Peixoto, Nelson Gonçalves, Ângela Maria e Dalva de
Oliveira: ouviam e escreviam a canção; ouviam e aprendiam a tocar no
instrumento musical.
Esses artistas começaram a
se inserir nos programas de rádio para interpretar as músicas de seus próprios
ídolos. Logo as rádios organizaram os casting,
para interpretarem ao vivo, nos programas musicais de auditório das rádios,
os grandes cantores da Rádio Nacional (1958).
Esses artistas que faziam
parte do casting das emissoras tinham
reconhecimento na sociedade manauara, eram os artistas da cidade, mas a família
ainda tinha valores errôneos em relação à profissão.
Começaram a serem
conhecidos como os artistas da terra ou artistas de nossa emissora. Cantores
como Helio Azaro, Celso Miranda, Arminda Oliveira, Julio Otavio, Maria das
Dores, Maria Aparecida, Katia Maria, Sebastiana Moreira, Clovis Carvalho, Paulo
Lino, Marlene Santana, Almir Silva, Salim Gonçalves, Conrado Silva e Wilson
Campos, foram artistas de rádio e participavam de programas de auditório
cantando os sucessos de grandes artistas nacionais.
É
importante enfatizar que haviam variados estilos de artistas nesse período: os
que faziam parte de casting das
rádios, os que tinham uma carreira mais sólida a nível nacional como Arnaldo
Rebello e Roberto Carreira, os que faziam dublagens por diversão nos clubes da
cidade, e os que faziam dublagem profissional nos clubes e nas rádios.
Assim, essa variedade de estilos mostra os diversos
gostos musicais que o artista em Manaus foi obtendo em função da própria
história social da cidade e das influências que este artista teve no decorrer
de sua formação artística.