terça-feira, 15 de julho de 2014

CHICO DA SILVA

Chico da Silva: do Amazonas para o mundo

De Parintins para o mundo, Chico da Silva nasceu na terra de artistas e assim se consagrou também: um grande compositor e cantor conhecido no Brasil pelo seu talento e sua arte.
Iniciou sua carreira musical nos anos 80: cantando e compondo sambas na terra onde as toadas predominavam, mas a ilha é um lugar que recebe culturas de diversas partes do mundo, não só o ritmo Boi Bumbá faz parte da cultura de Parintins, mas em sua história sociocultural muitos aportaram na ilha trazendo suas culturas, crenças e musicalidades, como o ritmo lundum que ainda permanece vivo nas mediações de municípios do médio Amazonas, principalmente em Barreirinha, no rio Andirá.
Compôs músicas para Alcione e Martinho da Vila entre outros artistas conhecidos no Brasil. Quem não cantou o trecho da canção Sufoco: "Não posso mais alimentar a esse amor tão louco, que sufoco! Eu sei que tenho mil razões até para deixar de lhe amar. Sufoco é letra e música de Chico da Silva e Antonio Jose, composta em 1978, e continua sendo cantada, uma canção atemporal. Assim como Pandeiro é meu nome: Batuqueiro ôô, batuqueiro, cantando samba pode bater no pandeiro... canções interpretadas pela cantora Alcione. 
Mas não podemos deixar de mostrar sua grande paixão pelo boi Garantido, Chico da Silva é vermelho de coração e alma, traduziu seu grande amor na canção/toada vermelho, composta em 1996, ficou conhecida mundo afora, foia a canção mais executada no Brasil no período: A cor do meu batuque tem o toque e tem o som da minha voz vermelho, vermelhaço vermelhusco, vermelhante, vermelhão. 
Chico da Silva traduz em versos e melodias o samba brasileiro, de temas diversos, desde o samba com letras que retratam sua terra e o cotidiano ao samba com letras românticas e comerciais. Chico da Silva é um artista que não está na mídia o tempo inteiro, mas está nas vidas e na voz de muitos brasileiros, tem o respeito de artistas, cantores e compositores brasileiros, divulga a cultura do Amazonas e, por este legado, suas composições fazem parte dos bens imateriais do patrimônio cultural do Estado do Amazonas, só engrandece a história musical da nossa cidade e permanece viva na cultura do Amazonas. 


MAESTRO JERÊ

Maestro Jerê: o mestre da composição

Para os íntimos, Jerê, é assim que Jeremias gosta de ser chamado. Jerê nasceu em Cuiabá e veio para Manaus no final da década de 60. Os pais foram os primeiros a motivar para aprender música, pois também eram músicos. Jerê estudou no tempo em que o canto orfeônico era uma disciplina nas escolas públicas do Brasil.
Foi nos tempos de escola que Jerê começou a compor e a ter o contato com o violão, seu principal instrumento entre tantos outros que aprendeu a tocar como o cavaquinho, o bandolim, o piano e o violão, a guitarra, o baixo elétrico e acústico, acordeom e teclado.
Por ser um multi-instrumentista ficou conhecido na década de 1960 pelos variados lugares do Brasil, principalmente no cenário musical em São Paulo que atuou em vários grupos, tocando pelo país e em alguns países como Argentina, Uruguai e Bolívia.
Quando chegou em Manaus, Jerê começou a ensinar música pelas escolas, e posteriormente se formou em Engenharia na antiga UTAM que hoje é a UEA na área de tecnologia e engenharia, e também cursou Educação Artística pela UFAM.
Mas Jerê sempre foi um professor de música, formou gerações de músicos, principalmente violonistas.
Mesmo atuando como professor, Jerê não deixou de atuar no cenário musical e isso o tornou um grande compositor. Entre seu acervo musical tem peças para instrumentos de sopro no estilo choro, peças para piano, para violão solo, para flauta doce, sendo a maioria para violão. Somando mais de 500 peças compostas.
Jerê é uma personalidade reverenciada entre os músicos amazonenses, por isso que é chamado por todos de Maestro Jerê.
É um músico que apesar das dificuldades não deixou de compor e de estar presente no cenário musical em Manaus, como até os dias de hoje que atua no grupo Aldeia do Choro, sendo o principal compositor, o mestre do choro em Manaus.

Maestro Jerê, o mestre da composição, o multi-instrumentista e o professor de muitos músicos que o tem como exemplo de musicalidade e personalidade.

TEIXEIRA DE MANAUS

Teixeira de Manaus: “abra a sua porta e deixe meu sax entrar”!!

Quem nunca deixou entrar em sua casa o som do sax de Teixeira de Manaus? Assim eram as festas e domingos de muitas famílias manauaras: ouvindo os LP´s de Teixiera de Manaus ou Pinduca, que foi seu grande amigo.
TEIXEIRA DE MANAUS é conhecido no cenário musical amazonense através das misturas de ritmos caribenhos como a salsa, o merengue, a rumba e a cumbia: ritmos essenciais para a sua formação como músico e como uma identidade própria, ou seja, uma marca registrada de sua carreira.
Recentemente Teixeira de Manaus foi tema de pesquisa do Trabalho de Conclusão do Curso de Música do discente Grazeane Froz, que se inspirou em Teixeira de Manaus para iniciar seus estudos no saxofone, tendo atualmente o saxofone como seu instrumento de trabalho. Para muitos saxofonistas amazonenses, Teixeira é referência musical entre seus pares e um dos pioneiros saxofonistas amazonenses e divulgador da cultura local.
As informações resumidas que irei expor foram frutos da pesquisa de Grazeane Froz, um registro sobre a trajetória artística de Teixeira de Manaus que começou quando criança, na escola, assim como muitas crianças tem o primeiro contato com música através de uma flauta doce, com Teixeira de Manaus foi com o cavaquinho, dado por sua mãe: uma grande incentivadora para que o filho tirasse boas notas.
O sax somente veio depois de um certo tempo: um sax velho, pois sua família era muito pobre e vivia de agricultura e não tinha condições para comprar um novo, mas Teixeira começou a estudar o sax assim mesmo. Aos 19 anos ele começou a tocar nas festas no interior de Manaus e torneios de futebol, daí veio o convite para tocar bregas em Manaus e foi quando aprendeu a tocar teclado por ter mais possibilidades sonoras para formação de banda.
Sua primeira banda foi a RT4, que significa as iniciais de seu nome próprio e 4 era o número de componentes: cantor, baixista, guitarrista e Teixeira que tocava teclado e sax. Nessa vida noturna de músico, Pinduca observou o músico e convidou sua banda para ser a base de seus shows em Manaus, sendo o início de uma grande amizade entre os dois.
Teixeira de Manaus teve seus sucessos tocados em todo o Brasil, começando por São Paulo, depois o nordeste onde fez grande sucesso e teve seu nome citado em várias cidades, ganhando o mundo.
Sua discografia é grandiosa. Nos anos de 1980 a 1986 gravou pela gravadora Copacabana: Teixeira de Manaus: Solista de Sax Vol. 1, 2, 3, 4, 5, 6 e o 7, em 1986: “Sax, Balanço e Lambada”. Em 1990 gravou pela gravadora “CID”: “Salsa Cúmbia e Merengue” VOL. 1 e 2 em forma CD. Em 1995 gravou em Manaus na gravadora RH na Amazon Record. Em 1998 pela gravadora RGE, com distribuição da Som Livre da rede Globo: “Festa do Povo” vol. 1 e 2.  Em 2002 pela Disco Lazer: “Pra Dançar”, “Teixeira de Manaus no São João” e “Banda do Teixeira”. Em 2007 preparou dois CDs diferentes: “Simplismente Sax”, e “Teclados e Teixeira”.
Sua grande obra e nunca esquecida é Deixa o meu sax entrar, um refrão simples que virou popular, um pedido para que todos abram suas portas, uma lição que seu amigo Pinduca lhe ensinou: frases populares e simples.
Teixeira de Manaus foi homenageado no Festival Amazonas Jazz em 2012, encerrando sua carreira artística com muita emoção, mas certo de que faz parte da construção da história da música no Amazonas.

Teixeira de Manaus e seu saxofone: um símbolo de festa, alegria e musicalidade.

segunda-feira, 7 de abril de 2014

LUCINHA CABRAL: BRASILEIRA E CABOQUINHA COM MUITO ORGULHO E FARINHA!



Dona de uma personalidade sem igual, Lucinha Cabral é espontânea, divertida e muito talentosa.
ua voz é poderosa e forte, inigualável! Ouvir Lucinha Cabral é como ouvir a sonoridade dos trovões: fortes, autênticos e exatos, mas com a delicadeza e singeleza de seus traços desenhados no céu.
Lucinha Cabral canta as temáticas de suas raízes culturais, é uma característica de suas canções assim como faz parte da suas proposta de trabalho: enfatizar a cultura de sua terra que é transmitida pelas letras que sintetizam a essência amazônica, como por exemplo "Acauã" que foi a sua primeira composição, "Curupira", "Curumim" com parceria de Marinho, entre outras tantas canções com temáticas amazônicas.
Mas "Brasileira" tem um diferencial, pois canta sua própria essência como mulher amazônica, citando as maravilhas de sua terra, dos amigos, sintetiza em uma letra o espelho da vida e da cultura amazônica: da "pátria d´água" como retrata sua terra na própria canção.
Cantora, violonista e compositora, é uma das primeiras mulheres amazonense a ter a música como profissão dentro da música popular em Manaus, o que era muito difícil e preconceituoso em tempos atrás.
Lucinha Cabral teve influências musicais como Rita Lee que é irreverente, Gal Costa, Caetano Veloso e Gilberto Gil, grandes nomes da música popular brasileira.
Hoje Lucinha Cabral é referência pelo seu trabalho composicional diferenciado, pela fortaleza de sua personalidade e pela qualidade sonora vocal que expõe suas emoções e seus pensamentos.
Comemorando 30 anos de carreira musical, não é pra qualquer um neste cenário musical em Manaus, para ser profissional tem que ter muito pé no chão e focar no trabalho musical que requer disciplina, comprometimento com o público e profissionalismo, e, principalmente muito amor pelo o que faz, como diz Adelson Santos: “música é uma profissão de risco”

TORRINHO, HOJE O NOSSO ZECA TORRES, O ZECA DO PORTO DE LENHA

Vamos cantar juntos?!!!
Porto de Lenha tu nuca serás Liverpool, com uma cara sardenta e olhos azuis...
Música que virou canção-hino da cidade de Manaus, representa uma parte da nossa história sociocultural, tempos passados, mas que continuam presentes no cotidiano do manauara, na nossa memória coletiva, por isso que esta canção permanece no cenário musical, no repertório dos artistas e dos estudantes de música, tocada em diversos tipos de eventos e públicos.
Esta canção é um grande legado musical que José Evangelista Torres Filho deixa para nossa terra, para nossa história musical e sociocultural, traduzindo em poesia e música os momentos que marcaram a política, a economia e a cultura de Manaus na década 70.
Conhecido como Torrinho ou Zeca Torres, nascido em Belo Horizonte, veio para Manaus em fins da década de 1960, trazendo uma bagagem musical e cultural do Rio de Janeiro onde passou sua infância, vivenciando os movimentos musicais e os festivais de música. A canção Porto de Lenha composta em 1975, junto com Aldísio Filgueiras, deu nome ao primeiro disco que foi gravado somente no ano de 1990.
É claro que seu repertório não se restringe a Porto de Lenha, compositor de várias canções entre as mais famosas estão Dia de Festa (Borimbora), Porto de Lenha, Ecológica Nº1, papagaio de Famão, casa 26, Como tivesse sua idade, Companheira, Companheiro das Estrelas, Cunhantã, Das águas e da mata, Perdi meu começo velho, Rodopio. 
A canção 26 foi uma homanagem a sua eterna mãe Dona Candinha, onde retrata o ambiente de sua cas, os momentos da infância no Rio de Janeiro, mas apesar de todas as situações, tristezas e alegrias vividos na casa 26, " colocava sobre  a mesa o meu coração", canta Torrinho.
Zeca Torres é músico e compositor de grande valor no cenário musical amazônico, de uma estética musical singular, de uma voz singular: quando canta nos remete aos nossos mais singelos sentimentos que nos passa com sua poética musical através de sua voz. E é isso que diferencia os mais notáveis músicos: sua voz e sua estética musical.

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

ADELSON SANTOS: PROFESSOR, MAESTRO E COMPOSITOR

Adelson Santos é um músico remanescente da década de 60, ainda jovem, com 15 anos aprendeu a tocar violão ouvindo as rádios ao som da Bossa Nova, das cantoras de rádio, a Rádio Nacional, pra ser violonista nessa época tinha que tocar os acordes da Bossa.
Para Adelson a Bossa “foi a segunda lição de vida musical”, a fonte de aprendizado para muitos músicos que queriam começar a carreira musical e serem reconhecidos no circuito musical. Adelson criou a Banda The Rocks, em 1967, um grupo musical com 4 integrantes, no formato The Beatles, com repertório da música internacional e da Jovem Guarda, ao som do iê-iê-iê.
Formou-se em música pela UFRJ, tornando posteriormente professor universitário do Curso de Música da UFAM, ensinando harmonia, contraponto, arranjo e lançando livros sobre métodos de violão.
Um de seus importantes legados musicais que deixou para a cidade de Manaus foi a Orquestra de Violões do Amazonas, foi o criador de um projeto pioneiro e o primeiro maestro. Até hoje a Orquestra faz parte dos Corpos Artísticos da Secretaria de Cultura, formando violonistas solistas e compositores em uma orquestra de instrumento popular: o violão.
Suas composições falam de natureza, de amor, assim como críticas ao modo de vida social. Entre suas criações mais marcantes foi Dessana Dessana em parceria com Aldísio Filgueiras e Márcio Souza; participou no Festival de Ópera com o arranjo da Ópera Carmen para a Orquestra de Violões.
Mas quem nunca ouviu Não mate a mata como música de fundo de reportagens ou quando cantamos, mas desconhecemos o compositor? Na verdade o título da canção é Argumento, composta em 1975, mas ficou popularizada por Não mate a mata e sendo cantada até hoje. Uma pequena canção que representa a preservação da floresta, a consciência ambiental e o respeito pela mata e sua biodiversidade: “Em questão de Solimões, fundamental é saber que o negro não se mistura com amarelo. Não mate a mata, não mate a mata, a virgem verde bem que merece consideração
Adelson Santos criou a Orquestra Vozes da UFAM sendo maestro atualmente, apresentando suas composições e possibilitando que jovens músicos atuem na prática musical, trabalhando e ganhando a vida com música o que não era possível quando era jovem.
Faz parte da vanguarda musical, ou seja, referência musical e por ser uma das personalidades musicais responsáveis pelo desenvolvimento do cenário musical em Manaus.
Por todo seu legado, é um músico respeitando pela sua produção e, principalmente, por ser crítico em relação a Música em Manaus e em suas canções: “de tanto tirar, sugar, de tanto matar, ferir, de tanta e tanta coisa destruir”.

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

O MAGO DO VIOLÃO - DOMINGOS LIMA


Quando falamos sobre violão em Manaus, não devemos deixar de citar Domingos Marcelo de Lima Dias, conhecido como Domingos Lima e intitulado como o Mago do Violão. Domingos Lima foi violonista, compositor e professor em Manaus entre as décadas de 60 e 90.
Domingos Lima ficou conhecido como o Mago do Violão em virtude de ser um único em Manaus a tocar a guitarra elétrica, na década de 60, em função da venda de instrumentos pela Zona Franca de Manaus. Mago, por ser um autodidata no violão e ter reconhecimento no cenário musical.
Foi professor de música, ministrava as aulas de música na própria casa, num período onde o mais comum eram aulas de violino e piano em escolas de música tradicionais da cidade. Muitos jovens foram alunos de Domingos Lima que hoje fazem parte do cenário musical de Manaus como Davi Nunes, maestro da Orquestra de Violões, Renato Brandão, professor do Curso de música da UFAM, Noval Benaion, professor e baterista da Orquestra Vozes da UFAM,  e o renomado músico Afonso Toscano, entre tantos outros jovens que aprenderam as lições musicais em sua casa, no Beco do Macedo, contribuindo para a formação musical destes jovens e para um futuro cenário cultural diferenciado na cidade.
Domingos participou por vários anos do programa Sua manhã de domingo da Rádio Difusora do Amazonas. Participava ativamente do programa Carrossel da Saudade da TV Educativa, atual Fundação Cultura de Manaus juntamente com sua banda Talento não tem idade. Além de sua Orquestra que tocava nos bailes da cidade na década de 60, chamada Orquestra Domingos Lima.
Como compositor, destacamos suas principais composições: Amor impossível, Engano, Coração indeciso, Aviso prévio compostas em parceria com Abílio Farias, grande nome da música do eixo Norte e Nordeste.
Domingos Lima gostava de compartilhar seus conhecimentos - muitos desses conhecimentos foram aprendidos ouvindo música de cinema, indo a sessões e mais sessões para aprender os acordes da canção de sucesso, como a Malagueña do grande violonista espanhol Sabicas.  
Longe de um rigor técnico, pois era um autodidata em circunstâncias que a vida musical e social em Manaus demandava na década de 60, o Mago do Violão transmitia sentimentos através da Música.

Hoje é tema de pesquisa pelo discente João de Deus Vieira de Oliveira do Curso de Música da UFAM, com o objetivo de construir sua trajetória artística e seu acervo musical. Não será somente uma pesquisa científica sobre um músico e sua vida artística, mas uma homenagem pela sua contribuição musical à cidade e pelo que construiu em muitos jovens o gosto pela música e pelo conhecimento e ensinamento musical que proporcionou, resultando hoje, em muitos agentes culturais.

domingo, 5 de janeiro de 2014

Festivais de dublagem: consolidação como manifestação musical em Manaus


Os pioneiros em dublagem foi um grupo de jovens da Juventude Lusitana do Luso Sporting Club. Esse grupo começou a inventar apresentações para ter algo a fazer, foi como surgiu a idéia de fazer dublagem dos cantores famosos.
O grupo Juventude Lusitana se transformou no grupo Cly Baby Show. Em função disso, além das dublagens no Luso, outros clubes passaram a fazer dublagens, tais como, o Barés Clube, Olímpico Clube, o São Raimundo, o Sul America.
Toda essa manifestação proporcionou um sucesso para o grupo Cly Baby Show nos clubes da cidade. Por ser referência na dublagem em Manaus, tinham crédito nos clubes, entravam como celebridades.
Logo, o Joaquim Marinho, que era representante da gravadora Phillips, percebeu a proporção dessas festas nos clubes: foi por causa da motivação de vários clubes em fazer dublagem que virou festival.
O Festival não envolveu somente os clubes, os artistas e as rádios, o comércio local também foi mobilizado. A exposição dos troféus nas vitrines das Lojas, como “Milane Magazine, Brumell Roupas, Lojas Capri, e Palácio da Moda” possibilitou não somente a divulgação do festival que trazia a curiosidade de muitos sobre o evento que movimentava a cidade, como também as Lojas se aproveitavam para colocar nas vitrines seus melhores produtos.
Foram dois Festivais de Dublagem, um em 1965 e o outro em 1966: Os Festivais de Dublagem vieram despertar o grande público da cidade, foi uma iniciativa da gravadora Phillips juntamente com a Rádio Baré e a Loja Novidade Discos.
Reunia os melhores da dublagem no Amazonas, divididos em categorias, o local de sua realização foi no Salão dos Espelhos do Atlético Rio Negro Clube, houve também a distribuição de diversos prêmios.
O I Festival Estadual de Dublagem foi realizado em 18 de setembro de 1965. Marcou os 25 anos de atividades da Rádio Baré na cidade e transmitido ao vivo pela Rádio Baré, que comemorou suas Bodas de Prata.
A comissão julgadora foi formada por 13 pessoas: entre eles radialistas da Rádio Rio Mar, Baré e Difusora; jornalistas do O Jornal, Jornal do Commercio e A Crítica; e das gravadoras Chanteeler, Philips, CBS, RCA, Copacabana, e da Loja Novidades Discos, alem do diretor do mês do ARNC (Atletico Rio Negro Clube).
Os candidatos tinham que representar cada clube da cidade, que podia inscrever um candidato nas categorias individual masculino, individual feminino, dupla e grupo.
Os Festivais de Dublagem foram a diluição das reproduções do que foi escutado nas rádios e visto nos cinemas. Logo os Festivais não surgiram por nenhuma razão, havia um momento histórico no espaço global, nacional e regional na década de 1960.

Os clubes foram os principais agentes dessa manifestação artística, visto que a prática do que se ouvia na rádio e nos cinemas era feita nas dublagens, nas Manhãs de Sol dos clubes, os quais incentivaram seus próprios sócios a levar seus bolachões do cantor preferido, colocavam no Hi-Fi e fizeram o “teatro musicado”.

AS DUBLAGENS EM MANAUS: UM TEATRO MUSICADO


Antes de existir tantas bandas em Manaus, muitos jovens se divertiam fazendo dublagens nos clubes da cidade, era diversão imitar os artistas de sucesso: seus trejeitos, figurinos e a forma de tocar.
Muitos jovens amazonenses iniciaram o gosto pela música através das dublagens e muitos seguiram neste caminho artístico buscando professores de violão, sax, guitarra ou bateria para aprender de fato o instrumento musical.
Fazer dublagem era coisa séria, os artistas se tornavam conhecidos e eram as celebridades da cidade. Haja vista que os clubes é que mapeavam este circuito cultural e que promoviam este aumento dos artistas.
Uma das rainhas da dublagem foi a atriz Edinelza Sahado, se tornou a Rainha da Dublagem no Atlético Barés Clube sem obter nenhuma formação específica. Bastava fazer a melhor dublagem quanto aos figurinos e gestos como a mesma comentou: “Então peguei meu bolachão, cheguei na ‘Manhã de Sol’ e disse ‘eu vou concorrer’ então eu gostava tanto da música que repeti 4 vezes e naquela hora fui eleita a rainha da dublagem do Atlético Barés Clube.”
A maioria dos cantores de Manaus eram cover nos clubes ou nas rádios da cidade,  ou seja, faziam dublagens, imitações, reproduções de outros artistas, das bandas de sucesso e de intérpretes, como comenta o Noval Benaion (professor e baterista): “Tudo cover. Tinham grupos e intérpretes que eram de pessoas isoladas e especialistas em dublagem. Tinha um amigo meu do colégio, o Wagner, que ele fazia dublagens fantásticas, ele sozinho, mas também tinham as bandas, as pessoas montavam bandas, se vestiam e faziam como a gente vê na televisão, tudo era dublado, os caras só faziam articular, faziam coreografia igual, etc. e isso dominava os shows da noite que os clubes bons apresentavam, quando não tinham muita atração apresentavam isso aí.”
As dublagens eram grandes espetáculos, uma produção teatral com figurinos e interpretações. Eram verdadeiras montagens de shows, era um teatro musicado com dublagem: figurino, características, jeitos, etc, a dublagem se tornou uma coqueluche, uma febre, todo mundo queria fazer dublagem.
O teatro musicado era divulgado como “Dramatização do Tema Musical” nos anúncios do jornal. E o Luso Sporting Club foi o pioneiro nessa dramatização do tema musical pela Juventude Lusitana.
Em consequência destas manifestações artísticas de fazer dublagem em vários clubes, começaram a organizar os Festivais de Dublagem na cidade que movimentou os clubes, o comércio e os artistas locais.
Os Festivais de Dublagens existiram exatamente por causa da grande demanda de cantores que faziam imitações de artistas nos clubes, principalmente o Atlético Barés Clube que iniciou nos finais da década de 50.
O Atlético Barés Clube já promovia nas suas Manhãs de Sol e nas suas noites de gala de dublagens: tinha seus reis e suas rainhas da dublagem e faziam na época do auge do rock.

Uma coqueluche, que aos poucos virou moda nos clubes da cidade, transformou e animou a vida musical e resultou em Festival, mobilizou a cidade inteira: o comércio, os artistas, os clubes e as rádios, fazendo moda e proporcionando um fazer musical diferente no circuito cultural de Manaus.

As Dublagens: vestimentas, instrumentos e a voz do LP na Rádio-eletrola


Hoje é comum ver a divulgação do cover uma banda musical pelos bares da cidade de Manaus.
Ouvimos as músicas que marcaram a trajetória artística do cantor ou a banda tal, ou mesmo, aquelas que fazem sucesso atualmente para ganhar o publico e o cliente ficar satisfeito com o ambiente aconchegante de acordo com o gosto de cada um.
Entretanto, nestas apresentações de covers atuais, não vemos a presença do cantor ou da banda nos palcos dos bares. Seria bem interessante imitar a vestimenta, os trejeitos...!!!!!!
Em Manaus, em meados de 1964 e 1965, aconteciam as dublagens nos clubes, nas noites dançantes da cidade. Era um tipo de cover deste período com a diferença que hoje se canta e não se veste como os cantores que são interpretados e, no período citado, se vestiam idênticos, tendo os trejeitos do cantor dublado, não sabiam tocar o instrumento e não tinha voz, a voz era do LP tocado na Rádio-eletrola.
A dublagem começou a se fazer presente nos clubes das cidades sendo primeiramente como diversão e, posteriormente, ficou sério, como comenta Delfim de Sá (dublador da década de 60 em Manaus):Era tão sério a coisa que quando terminei de dublar ao piano, o coronel veio em minha direção e disse: quero que você ensine minha filha a tocar piano, mas ninguém sabia tocar piano, pra você ver a seriedade da coisa.”
Não foi algo negativo que aconteceu, pelo contrário, foi bastante rico para a estrutura econômica, política e cultural da época na cidade de Manaus. Mobilizou a cidade e possibilitou que pessoas anônimas se tornassem músicos, atores, enfim, foi uma transição entre os programas de rádio e o cinema e a formação de bandas para tocar ao vivo.
Nas notícias de jornais destacamos os artistas conhecidos como a rainha da dublagem Eline Santana, também Almir Silva, Delfim de Sá, Salim Gonçalves, Conrado Silva e Wilson Campos, ou a própria Edinelza Sahado, que seguiu carreira de atriz por conta de fazer dublagem.
O Luso Sporting Clube foi o pioneiro nessa padronização de fazer dublagem. Delfim de Sá relata que na época, não havia recursos suficientes para convidar artistas nacionais: “Nós fomos os pioneiros em dublagem, porque naquele tempo Manaus não tinha grandes recursos pra mandar buscar cantores de fora pra vim pra Manaus se apresentar”.
A simples diversão, nas “Manhãs de Sol” (atividade cultural nas manhãs de domingo nos clubes) se tornou a “coqueluche de Manaus”: “Eu ia pra missa, depois da missa eu entrava no Luso, arrumava as mesas, lotava a sede do Luso Sporting Clube.”
As dublagens ocorriam na atividade cultural “Manhãs de Sol” no Luso Sporting Club: “Era uma Manhã de Sol que existia na época. Nós fundamos essa Manhã de Sol. Aí o Luso nos abriu as portas e nós fundamos também a juventude lusitana, que era essa equipe: era uma juventude tão boa que nós fizemos as Manhãs de Sol de nove horas até uma hora da tarde, meio dia; o Luso não tinha balneário, era na sede do Luso”, relata Delfim de Sá.

O Atlético Barés Clube pode ter sido o primeiro a realizar este tipo de evento, mas o Luso Sporting Clube foi o que alavancou na década de 1960 esta manifestação musical, fazendo a dublagem virar rotina nos clubes e tendo mais força e participação.

RÁDIO: PROGRAMAS, FESTAS, CASTINGS E ESCOLA DE MÚSICA EM MANAUS



 O Rádio literalmente cruzou de norte a sul do Brasil, foi a grande febre dos anos 60 em Manaus, foi o espaço onde os artistas iniciavam sua carreira, era o local da grande triagem para o estrelato e para o aprendizado musical. Mas vejamos um pouco da história do Rádio e como a influência da Rádio Nacional sucedeu no cenário cultural em Manaus.
O rádio chegou de fato no Brasil no ano de 1922 quando o povo ouviu o discurso do presidente Epitácio Pessoa e as transmissões vindas do Teatro Municipal e do Teatro Lírico.
A primeira emissora brasileira foi a Rádio Sociedade em 1923, a segunda a Rádio Clube do Brasil, (1924), e a terceira a Rádio Educadora em 1927. Aos poucos o rádio começou a simbolizar poder e benefícios políticos, como na década de 1940, o governo Vargas incorporou a Rádio Nacional ao patrimônio da União. Isto em consequência do fracasso do programa Hora do Brasil em Buenos Aires que utilizava como meio de propaganda da música brasileira. E somente em 31 de maio de 1958, a Rádio Nacional foi inaugurada.
A Rádio Nacional foi a expoente da divulgação da cultura brasileira. Foi por meio dela que o mundo conheceu a música brasileira.
Em Manaus a chegada do rádio foi um pouco tardia. O rádio se consolidou em Manaus pelo fato da TV ainda não ter se fixado na cidade.
As emissoras de Rádio somente foram criadas na cidade a partir da Lei n.445 de 17 de outubro de 1949. Logo, a década de 50 foi o período de amadurecimento e na década de 60 a consolidação como principal instrumento técnico para o desenvolvimento da vida cultural em Manaus.
Mas, de acordo com uma nota no Jornal do Commercio, em 16 de setembro de 1965, a Rádio Baré já atuava desde 1940, conforme a notícia a seguir: “O 1º Festival Estadual de Dublagem iniciará as festividades, igualmente dos 25 anos de atividades da Rádio Baré e será transmitido diretamente do clube líder das promoções”.
A Rádio Nacional era muito ouvida assim como as Rádios estrangeiras, as principais ouvidas em Manaus eram: “BBC de Londres, Voz da América, Rádio da Havana, Rádio Central de Moscou, Rádio Pequim”.
As emissoras locais organizavam concursos, festivais e muitas atividades culturais, não somente dentro do estúdio eram realizados os programas, mas as programações eram feitas também em locais mais frequentados da cidade como a Maloca dos Barés, onde a Rádio Baré apresentava um programa com convidados como Ângela Maria e outros cantores do rádio, uma forma de prestigiar e dar audiência do público.
Um dos eventos mais importantes foi a festa Os Melhores do Rádio, nos anos de 1967 e 1969, onde se escolhia o melhor locutor, animador, comentarista, narrador, rádio repórter, rádio atriz, discotecário, cronista e novela, além de melhor cantor e conjunto rítmico da cidade de Manaus.
A programação das emissoras era variada. Logo no início da década, em 1961, o programa que mais se destacou foi o Programa Chegou a Hora do Rock, da Rádio Baré, apresentado pelo radialista Joaquim Marinho, programa que tocava Elvis Presley e Bill Haley que motivou também muitos jovens a formar grupos e bandas, a comprar o instrumento na Zona Franca e ensaiar na casa de amigos.
Outro programa musical que se destacou foi o Programa em Bossa Nova, da Rádio Baré, que era um “programa variado com sequencias musicais para os calouros” (Jornal do Commercio, 26.03.1964).
O Programa Night and Day, da Rádio Rio mar, foi um dos mais ouvidos tanto pela programação, mas principalmente por ter como radialista e cronista o chamado Luis da Conceição Souza Pinto, apelidado por Little Box, o “Caixinha”.
É neste cenário que muitos músicos desta época como Adelson Santos, Noval Benaion, Katia Maria, Lili Andrade, Torrinho hoje conhecido como Zeca Torres, Domingos Lima (16.01.1926 /29.09.1995), Aureo Nonato (01.04. 1921   23.03.2004) , entre muitos outros que escutavam as Rádios, aprendiam a cantar as músicas e aprendiam a tocar um instrumento e se tornaram símbolos de uma geração artística da música e precursores de um novo fazer artístico na cidade. Os seus professores foram os cantores da Rádio Nacional como Cauby Peixoto, Nelson Gonçalves, Ângela Maria e Dalva de Oliveira: ouviam e escreviam a canção; ouviam e aprendiam a tocar no instrumento musical.
Esses artistas começaram a se inserir nos programas de rádio para interpretar as músicas de seus próprios ídolos. Logo as rádios organizaram os casting, para interpretarem ao vivo, nos programas musicais de auditório das rádios, os grandes cantores da Rádio Nacional (1958).
Esses artistas que faziam parte do casting das emissoras tinham reconhecimento na sociedade manauara, eram os artistas da cidade, mas a família ainda tinha valores errôneos em relação à profissão.
Começaram a serem conhecidos como os artistas da terra ou artistas de nossa emissora. Cantores como Helio Azaro, Celso Miranda, Arminda Oliveira, Julio Otavio, Maria das Dores, Maria Aparecida, Katia Maria, Sebastiana Moreira, Clovis Carvalho, Paulo Lino, Marlene Santana, Almir Silva, Salim Gonçalves, Conrado Silva e Wilson Campos, foram artistas de rádio e participavam de programas de auditório cantando os sucessos de grandes artistas nacionais.
É importante enfatizar que haviam variados estilos de artistas nesse período: os que faziam parte de casting das rádios, os que tinham uma carreira mais sólida a nível nacional como Arnaldo Rebello e Roberto Carreira, os que faziam dublagens por diversão nos clubes da cidade, e os que faziam dublagem profissional nos clubes e nas rádios.
Assim, essa variedade de estilos mostra os diversos gostos musicais que o artista em Manaus foi obtendo em função da própria história social da cidade e das influências que este artista teve no decorrer de sua formação artística.