domingo, 30 de junho de 2013

O CANCIONEIRO AMAZÔNICO

A Amazônia não é só cantada por suas belezas naturais, nossos compositores além de retratar em suas canções a fauna, a flora, a vida ribeirinha, a cidade e a floresta, cantam também a valorização do território desta geografia verde: a política e a economia deste paraíso perdido inserido num contexto nacional e internacional.
A poesia das músicas não é mais o rio que navega como estradas, o vento que corre nas matas, o encanto do canto do uirapuru, mas uma letra engajada, forte e destemida, uma letra que conta pedaços de nossa história sociopolítica e que ainda está presente no cotidiano amazônico, ou seja, a história se repete de diversos ângulos, por isso que não paramos de cantá-las, viram hinos no imaginário coletivo e passadas de geração em geração.
Algumas dessas canções viram hinos porque foram compostas em momentos políticos, na luta contra a internacionalização da Amazônia ou para sua preservação, letras cheias de metáforas, sarcásticas e politizadas. Temos três exemplos para demonstrar este tipo de cancioneiro amazônico, como exemplo: Porto de Lenha, Renovação e Amazônia.
A canção Amazônia foi composta por George Jucá, Antonio Nápoles e Miguel de Souza, cantada pelo grupo A Gente, na década de 1970: Ama, ama Amazônia, vamos, vamos, vamos desmatar, com este matagal, matamos os animais, matamos os vegetais, Amazônia esterelizar. É uma letra bastante destemida e sarcástica, pois em vez de pedir para preservar, a letra pede para matar a Amazônia e esterelizar, é uma forma de chamar a atenção para os fatos do momento: o desmatamento da floresta para o progresso econômico e político do país.
Renovação foi composta por Candinho, uma canção da década de 80, final do regime militar, época que os jovens saíram nas ruas para cantar a liberdade de expressão, de comunicação, a democracia, “esse grito sufocado na garganta sem sair”. Foi uma época dura, onde muita coisa era proibida, momentos sangrentos e sufocantes. Enquanto isso o povo dizia que era “hora de jogar as coisas velhas fora desse quarto, tomar nas mãos o leme desse barco... contar de novo a história como há muito tempo não se houve mais... andar de braços dados, levantar as mãos.  Esta canção é bastante significativa e simbólica no período, ela canta  e conta a história do período do regime militar, entretanto, ainda é preciso cantá-la sempre, pois é uma canção atemporal, pois nos dias de hoje é sempre preciso “bater na mesma nota e na mesma canção...um desejo sem medida e paciência”.
Porto de Lenha foi composta na década de 1970 por Torrinho, é a mais pedida ou nem precisa o público pedir, o próprio artista já canta: Porto de Lenha tu nunca serás Liverpool com a cara sardenta de olhos azuis. Mas cantamos porque conhecemos seu significado histórico ou porque nos satisfaz cantar? Porque ainda a cantamos depois de três décadas que ela foi composta? Porque alguns artistas ou público não gostam mais de cantá-la?
 Será que Manaus nunca será Liverpool depois de 2014? Enfim, são alguns questionamentos que nos fazem refletir sobre o momento histórico para qual ela foi composta e, nos dias atuais, refletindo em nossa cidade e a canção ainda permanece.
São exemplos de canções com uma poética mais engajada. Contudo, ta faltando, atualmente em nossa cidade, artistas engajados como Torrinho, Candinho, o Grupo A Gente que, foram em suas épocas, jovens artistas que cantavam a sua própria história e da cidade.

Hoje existem muitos músicos e “músicos” e embora sejam em outros contextos históricos também temos mais problemas sociais e políticos, mesmo assim, poderíamos ter uma representatividade artística que não cantasse somente o verde da floresta, não basta apenas reproduzir o que já se ouve nas rádios, é preciso expressar, sem medo, as facetas de nossa sociedade manauara e nada melhor do que a arte para cantar os problemas que se escondem por detrás da mata.

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